segunda-feira, 13 de abril de 2009

Em que momento ficam as melhores idéias?

Montava quebra-cabeças, recebia parentes, amigos, trocava de casa e de mãe, abandonava a escola regular e fazia o que achava feliz, assim, sem mais, vivia como se tivesse um sério câncer e dias contados, mas sem esquecer que viveria muito mais. Adorava a suavidade das brisas e dos abraços e sentia um estranho amor por pessoas que se adoentavam, queria abraçar e cuidar, por isso, quando necessitava de atenção caía mas normalmente não a recebia como receberia se tivesse cuidando de si. Tinha estranhas superstições e uma religião inventada em momentos de reflexão profunda ao marasmo das tardes quase quentes e as barrigas quase cheias. Montava quebra cabeças, desenhava e aperfeiçoava o que já sabia, criava mais do que a maioria e imaginava tudo perfeito, sentia sempre uma paz que ninguém daqui entendia, porque não era uma paz daqui. Via nas cores a mais reconfortante das sensações e no monocromático também, assistia filmes porque isso fazia parte da sua religião, lia demais pelo mesmo motivo e se dedicava a tudo que fazia com um carinho de irmã. E falando em irmão tinha um bebê não do seu ventre que amava muito mais do que se fosse, ele sorria com dentes pequenos e abraçava com um amor excepcional, dizia todos os dias que ela era a menina mais linda do mundo e chamava-a carinhosamente de "noninho". Gostava dos seus cabelos e da maciez dos mesmo, andava por aí como se eles fossem parte independente do seu ser e às vezes desejava ser o ser cabelo, eram singelos demais e delicados como bailarinas. A maior questão da vida dela sempre foi a mesma desde que nasceu, na morna e verde maternidade às 15:15 brasileira de um décimo quinto dia, até morrer às 22:22 italiana na fria e azul noite de gondolas venezianas negras: As melhores idéias estão entre o sonho e a realidade ou nos outros momentos? É que todo dia ia dormir e, como em qualquer outra hora, tinha muitas e muitas, turbilhões de idéias que não cessavam e na hora todas ela pareciam que facilmente resolveriam um bocado de seus problemas, parecia que eram lógicas e até justas, mas mesmo na hora que elas aconteciam ela sabia que ao amanhecer pensaria diferente. E assim era, então, não fosse por essa dúvida terrível que a perseguia até no mais perfumado dos dias a vida da menina era um assoprar de bolinhas coloridas em um jardim materno. Até morrer a dúvida a perturbou, mas depois de algo que a mostrou a parte azeda do moranguinho que era o mundo, ela jamais seguiu suas idéias de quase sonho porque pra ela era o mesmo que seguir a emoção no lugar da razão e, apesar da sua ternura de santa, ela não fazia mais isso, nunca mais, porque vivia pra ser feliz sem ferimentos. E sem contrariar sua dívida para com a felicidade viveu assim até o último dia, com tanto carinho e convicção que ao longo da vida adquiriu grandes fãs de bons nomes e corações, que depois que perderam a presença de sua ídolo e amiga passaram a contestar as circunstâncias de sua morte: Alguns juram que ela morreu sonhando, uns dizem que ela nunca morrerá nos dois mundos, outros acham que morreu e viveu acordada, mas eu? Eu sei que nem por um segundo a menina esteve entre os dois mundos, porque nasceu, viveu e morreu no mesmo mundo, o dos sonhos. E lá sim ela é, incontestavelmente, eterna.

3 comentários:

Jenny Souza disse...

Lindo !
Sem mais palavras.

Beijão.

Anônimo disse...

também gostei! =D

Ferdi disse...

Obrigada vocês dois. :)

Beijo e beijo.