domingo, 26 de abril de 2009

O Caderno.

Essa música sempre me deixou excepcionalmente emocionada, talvez porque meus velhos cadernos sempre tiveram uma importância enorme pra mim, sempre foram amigos melhores e mais confiáveis do que a maioria dos meus amigos, sempre me ajudaram a aliviar minhas depressões e comemoraram comigo minhas alegrias. Meus antigos cadernos - e os atuais - sempre me ajudaram a ser quem eu finalmente sou, sem eles eu seria tão incompleta quanto uma flor despetalada, sem exageros. Então hoje quando meu avô me presenteou com cadernos e atividades escolares antigas eu não posso descrever muito bem a emoção que senti: uma nostalgia, um orgulho.. Eu me apaixonei pela pessoa que fui há dez anos atrás. Foi com tanta ternura que olhei para aqueles antigos cadernos, ri sozinha com tanto gosto que até meu irmão se sentiu enciumado e veio chamar minha atenção, mas foi inevitável.. Acabei de ler "Meu Pé de Laranja Lima" do José Mauro de Vasconcelos de novo não faz um mês e ver um resumo dele, com minhas palavras de criança, minha letra de criança, minha ingênua interpretação de criança me fez chorar. Comparei minha caligrafia com tanta graça. Ri dizendo que desenhava melhor naquela época do que hoje em dia - tudo bem que não é difícil, mas.. - e realmente me orgulhei, me orgulhei porque sempre andei com as minhas pernas. Eu lembro que quando estava ainda estudava no EMEI Castro Alves a "tia" Sílvia nos deu uma atividade simples: Pintar uma coruja em forma de relógio e fazer ponteiros pra ela. Todas as crianças chegaram com corujinhas evidentemente feitas pelas mães e lindas, no dia eu me entristeci muito (mas não chorei, naquela época eu era forte e não chorava jamais, só quando me batiam muito) e pensei que minha mãe não gostava de mim, minha corujinha parecia tão medíocre se comparada com as outras tão bem pintadas e encapadas com contact.. E hoje eu penso, no final das contas, quem se deu melhor? Minha mãe nunca foi muito presente mas não por falta de vontade e será que se ela tivesse me mimado e pensado por mim hoje eu seria quem sou? Acredito que não. Acredito que não teria minhas idéias nem minha coragem, não teria metade do meu espírito independente e inventor e não iria ao cinema sozinha. Se minha mãe pensasse como a manada de mamães padrões pensam será que eu não pensaria como a manada de adolescentes padrões? É engraçado pensar que sofrimentos nos fazem quem somos. É engraçado pensar que eu gosto da menina da corujinha horrível.. Eu gosto de mim, muito obrigada! E sorte de quem é meu amigo, sorte de quem pode ficar por perto, sorte de quem pode ser honesto comigo. (:

3 comentários:

Estela Carregalo disse...

Nossa, Ferdi, adoro. Eu tenho uma caixa, daquele tipo arquivo, com vários papeis antigos meus. Tenho muitos, muitos mesmo, desenhos de criança, coisas escritas e até meu livro que comecei a escrever, a mão, lá pelos meus dez anos. E é bom demais olhar essa caixa as vezes, mesmo.

p disse...

De acordo com um educador da idade média, o maior obstáculo entre o homem e o êxito é a modéstia.
Acho que você não corre perigos!

Ferdi disse...

É apaixonante, não?
Eu morreria por mim, uiahsdiua.

E, sim, senhor V, esse risco eu não corro.. se tem uma coisa que eu sei é admitir meus pontos fortes, oiq

Beijo e beijo.